O que é o vício em jogos online?
O vício em jogos online, também conhecido como transtorno do jogo eletrônico, é caracterizado pelo uso compulsivo e descontrolado de jogos digitais, resultando em prejuízos significativos na vida pessoal, social, acadêmica ou profissional do indivíduo. Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu oficialmente essa condição na 11ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), destacando a importância de abordá-la como uma questão de saúde pública.
Quem está mais vulnerável?
Embora o vício em jogos online possa afetar pessoas de todas as idades, estudos indicam que adolescentes e jovens adultos são particularmente suscetíveis. Uma revisão sistemática recente revelou que a prevalência global do transtorno do jogo entre adolescentes é de aproximadamente 8,6%, com taxas ainda mais elevadas em países como a China. Fatores como impulsividade, dificuldades de regulação emocional e ambientes familiares disfuncionais podem aumentar o risco de desenvolvimento do transtorno.
Quais são os sinais de alerta?
Identificar o vício em jogos online pode ser desafiador, mas alguns sinais comuns incluem:
- Preocupação constante com jogos, mesmo quando não está jogando;
- Necessidade de aumentar o tempo de jogo para alcançar a mesma satisfação;
- Tentativas fracassadas de reduzir ou parar de jogar;
- Perda de interesse em outras atividades anteriormente apreciadas;
- Uso de jogos como forma de escapar de sentimentos negativos, como ansiedade ou depressão. Esses comportamentos podem levar a consequências graves, incluindo isolamento social, queda no desempenho escolar ou profissional, distúrbios do sono e problemas de saúde mental.
Como prevenir e tratar?
A prevenção do vício em jogos online envolve a promoção de hábitos saudáveis e o estabelecimento de limites claros para o uso de dispositivos eletrônicos. Para aqueles que já enfrentam o transtorno, diversas abordagens terapêuticas têm se mostrado eficazes:
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Focada em identificar e modificar padrões de pensamento e comportamento associados ao uso compulsivo de jogos.
- Terapias combinadas: A associação da TCC com técnicas de mindfulness ou intervenções familiares pode potencializar os resultados do tratamento.
- Intervenções farmacológicas: Em alguns casos, medicamentos têm sido utilizados para auxiliar na redução dos sintomas do transtorno.
Além disso, programas de intervenção em grupo e o uso de tecnologias emergentes, como a realidade virtual, estão sendo explorados como alternativas promissoras no tratamento do vício em jogos online.
Considerações finais
O vício em jogos online é uma condição complexa e multifacetada que envolve fatores biológicos, psicológicos e sociais. Embora o avanço da tecnologia e o desenvolvimento de jogos cada vez mais imersivos tenham proporcionado novas formas de lazer e interação, também criaram um ambiente propício ao uso excessivo e, em alguns casos, ao desenvolvimento de comportamentos patológicos.
Entender que nem todo envolvimento intenso com jogos configura um transtorno é fundamental. O diagnóstico do vício exige a presença de prejuízos reais e persistentes na vida do indivíduo, como isolamento social, queda no rendimento escolar ou profissional, distúrbios de humor e dificuldade de controle sobre o tempo dedicado aos jogos.
Para enfrentar esse desafio, é essencial uma abordagem que envolva não apenas os profissionais de saúde, mas também pais, educadores e as próprias indústrias de games. A criação de políticas públicas que incentivem o uso saudável da tecnologia, o desenvolvimento de jogos com mecanismos de proteção contra o uso excessivo (como limites de tempo ou pausas obrigatórias), bem como campanhas de conscientização sobre os riscos associados ao uso abusivo, são medidas necessárias e urgentes.
Além disso, as famílias desempenham um papel crucial na prevenção, promovendo o diálogo aberto, estabelecendo limites saudáveis e oferecendo alternativas de lazer off-line que estimulem o convívio social e a prática de atividades físicas.
Por outro lado, os profissionais de saúde devem estar preparados para identificar precocemente os sinais do transtorno, oferecendo tratamentos baseados em evidências, como a terapia cognitivo-comportamental, abordagens familiares e, quando necessário, suporte farmacológico.
Por fim, é importante destacar que o objetivo não é demonizar os jogos eletrônicos, mas sim promover uma relação equilibrada com essa forma de entretenimento, potencializando seus benefícios — como a socialização, o desenvolvimento de habilidades cognitivas e a diversão — e prevenindo seus riscos. O enfrentamento do vício em jogos online passa, sobretudo, pela educação, pelo autocuidado e pela construção de uma cultura digital mais saudável e consciente.