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Psicóloga

Luciane Isabel Melo Inocêncio

Quando a Infância Encontra o Mundo Adulto Online: Desafios e Estratégias de Proteção

Desafios e Estratégias de Proteção

O Que é Adultização e Sexualização Digital?

A adultização digital ocorre quando crianças e adolescentes assumem comportamentos, preocupações e linguagens típicas de adultos. Isso se manifesta em “dancinhas” sensuais, maquiagem pesada, roupas que seguem padrões de corpo idealizado e na busca constante por validação através de curtidas e seguidores.

A sexualização é uma forma ainda mais grave, em que a criança é objetificada e sua imagem é usada sexualmente. Enquanto a adultização pode ser sutil, a sexualização traz riscos diretos, exigindo atenção imediata e ações de proteção.

Consequências Psicológicas para a Saúde Mental

A exposição a esse ambiente de performance e perfeição pode deixar marcas profundas.

Os principais impactos incluem:

Distorção da autoimagem e baixa autoestima: A busca por padrões irreais pode levar a transtornos alimentares ou dismorfia corporal. A autoestima passa a depender de aprovação externa, não de autoconhecimento.

Aumento da ansiedade e depressão: Comparações constantes, frustração com curtidas e pressão por uma vida “perfeita online” podem gerar ansiedade, estresse e até depressão.

Comprometimento do desenvolvimento social: O excesso de tempo online reduz a interação real, dificultando habilidades essenciais como empatia, comunicação não-verbal e resolução de conflitos face a face.

Influência da Adultização Digital na Adolescência

A adolescência é uma fase de construção da identidade, e o ambiente digital tem um papel cada vez mais central nesse processo. Quando os jovens são expostos precocemente a padrões adultos e à pressão da performance online, isso pode gerar efeitos claros que percebemos na prática clínica:

Busca constante por validação: Adolescentes passam horas conferindo curtidas, comentários e seguidores, condicionando seu valor à aprovação externa.

Comparação social prejudicial: Ver perfis de colegas ou influenciadores “perfeitos” leva a sentimentos de inadequação, baixa autoestima e autoimagem distorcida.

Aceleração da maturidade emocional: Ao lidar com conteúdos e comportamentos adultos antes do tempo, alguns adolescentes desenvolvem ansiedade, irritabilidade, dificuldades de concentração e dificuldade de lidar com emoções normais da idade.

Risco de comportamentos autodestrutivos: A pressão por aceitação e perfeição pode desencadear distúrbios alimentares, autocrítica severa ou automutilação, especialmente em jovens com histórico de vulnerabilidade emocional.

Dificuldade de socialização offline: A predominância das interações digitais muitas vezes prejudica o desenvolvimento de habilidades sociais no mundo real, como empatia, resolução de conflitos, assertividade e capacidade de manter amizades duradouras.

Imitação de comportamentos de risco: O consumo de desafios virais perigosos ou conteúdos inadequados pode levar o adolescente a reproduzir comportamentos sem consciência dos riscos, buscando aceitação ou visibilidade.

Contribuição de Felca na Conscientização sobre Adultização Digital

O influenciador Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, tem sido uma voz ativa na denúncia da adultização digital. Em agosto de 2025, ele publicou um vídeo intitulado “Adultização”, no qual expôs casos de exploração de menores nas redes sociais. Ele produziu uma investigação detalhada sobre a exposição de crianças e adolescentes às pressões das redes sociais, alertando sobre conteúdos e algoritmos que incentivam comportamentos inadequados para a idade. O vídeo, que ultrapassou 45 milhões de visualizações, trouxe à tona discussões sobre a responsabilidade das plataformas digitais e a necessidade de políticas públicas para proteger crianças e adolescentes online. Felca dedicou meses de pesquisa para produzir seu conteúdo, mostrando de forma clara e impactante como o fenômeno da adultização digital pode afetar jovens e familiares, incentivando um debate público e ações concretas de prevenção.

Psicologia próxima dos adolescentes

Na prática clínica, a psicologia se torna um espaço seguro onde o adolescente pode se sentir ouvido e compreendido. O psicólogo deve atuar como um guia, acompanhando cada jovem em seu universo digital e emocional, ajudando-o a reconhecer padrões prejudiciais e a desenvolver estratégias para lidar com as pressões online. Por meio da TCC, o adolescente aprende a identificar pensamentos distorcidos, como a necessidade de validação constante ou o medo de não se encaixar, e a substituí-los por formas mais saudáveis de pensar e agir. Ao mesmo tempo, a atuação baseada em PBE garante que todas as intervenções sejam eficazes e seguras, apoiando o jovem no fortalecimento da autoestima, da resiliência e das habilidades sociais. É um trabalho que vai além da técnica: envolve criar vínculo, gerar empatia e construir confiança, permitindo que o adolescente sinta que não está sozinho nesse desafio. Na terapia, o trabalho é próximo e prático: diálogo aberto, incentivo a atividades offline, fortalecimento da resiliência emocional e estratégias para lidar com a pressão digital.

Além da terapia, a psicologia atua como guia para escolhas conscientes online, ajudando o adolescente a:

Entender como algoritmos influenciam o que ele vê.

Reconhecer comparações prejudiciais.

Criar limites saudáveis de uso de telas.

Desenvolver habilidades sociais e emocionais offline.

Responsabilidade Coletiva: O enfrentamento da adultização digital envolve toda a sociedade:

Família: diálogo aberto, limites claros para o uso de telas e incentivo a atividades offline.

Escola: educação digital crítica e projetos que promovam bem-estar online.

Plataformas Digitais: ferramentas de controle de idade e remoção de conteúdos inapropriados.

Estado: políticas públicas que protejam direitos de crianças e adolescentes no ambiente digital.

A adultização digital é um desafio real, mas com informação, suporte psicológico próximo e práticas conscientes, é possível garantir que infância e adolescência sejam vividas de forma autêntica, segura e feliz.

“Precisamos garantir que crianças e adolescentes cresçam no seu tempo, sem que o mundo digital adulto antecipe responsabilidades que ainda não lhes pertencem.” – Felca

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